Reinações

Quero o obscuro de sua mente, embrenhar-me pelos cabelos, envolver-te com meu despudor de poeta sem face, nem nome. Me chamo ilusão, aquela sem cor, gosto ou alcance. Limite, fronteira...desconheço tais termos, quando o que almejo é sobrepor-me em sentidos respingados em palavras. O sangue se esvai com o vento que exala dos pulmões e da alma...do corpo, me sobra a intenção.

Sei vi(ver) me pelas histórias tecidas com cuidado, escondidas pelos cantos de minha timidez, na aridez de minha racionalidade solitária. Minha razão se preserva para os meus momentos a sós, quando posso enfrentar os espelhos e estradas pintadas de vermelho, com meus folclores particulares e luas cheias intermináveis.

Nos reinos que visito, sou mais que menina, sou além do ser. poeta. me faço gato, cigano, sereia, estrela, orvalho, ladra, verbo, linha, borrão e prosopopéia. Minhas pernas arrastam as idéias pelos corredores do Ocidente...onde os pensamentos navegam por águas escuras e profundas, onde o vento carrega e penteia os cabelos e os medos, nos pintando heróis, guerreiros e magestosos príncipes de honra e caráter.

Ilustração de J. Guillin: Reinações de Narizinho, 1930.

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A idéia resiste, não se abala, não treme. A feminilidade se perde, se esvai...me perco, sem medo de mentir o espírito com falsas maquiagens...minhas cores são, hora, pálidas, noutras indefiníveis. Quero todo o corpo e idéia de ser-me algo além do que a imagem que faz .es. de mim.

A história termina. os pontos se tornam vírgulas. O folclore vira fato, a fantasia, concreto. Não, não quero que se afogue na melancolia da realidade. Não se esqueça da ilusão. Eu não me faço esquecer. A idéia persiste, cria asas e voa reticências...já quanto aos contornos, só saberá...quando... me tiver entre as mãos.